domingo, 16 de maio de 2010

Beleza Natural

Toma banho, hidrata o cabelo, lixa as unhas, tira a cutícula, pinta as unhas, passa hidratante no corpo, seca o cabelo, limpa e tonifica a pele, faz uma massagem facial com um bom creme antissinais. Põe uma roupa , passa corretivo, base, pó, rímel, sombra, lápis, batom, gloss, perfume. Está pronta para sair. Linda, deslumbrante.

A beleza toma tempo, pelo menos 2 horas para ter um bom resultado. É natural a mulher querer ficar bonita. Ficar bonita requer esforço, determinação, tempo e dinheiro. A beleza estética é necessária na sociedade atual, em detrimento da beleza natural de ser mulher.

A. P. Reis

sábado, 6 de março de 2010

Do riso

O riso é símbolo, também diz, fala e insinua. Em sua essência é transgressor, pois rompe com a ordem, com a rigidez do estabelecido e instaura o desajuste, o sinal de desordem, subverte e desarmoniza o sistema, traz a pane. Mas também é profundamente humano, ligado à nossa espécie, extensão dela, seu modo de ser.
Para Platão o riso era uma ameaça à racionalidade, já que aproximaria o homem da loucura e da animalidade. Aristóteles considerava a comédia um gênero menor, as luzes acenavam para os temas trágicos que causassem dor ou piedade, que produzissem catarse na grande plateia. Apesar de não tão avesso ao riso quanto Platão, ele ainda o delegava a um plano menor, isso porque era a tragédia que colocava em questão conflitos tidos como nobres, que engranceriam a espécie, enquanto o gênero cômico a diminuiria.
Para Gil Vicente rindo castigam-se os costumes. Então o riso seria um ato sádico de subversão, seu alvo: a tradição, o posto, e os atacaria de um modo irritante, afinal ser mote de deboche é indigesto, nem os mais “nobres” costumes suportam. Ainda, é um gesto filosófico, um aceno do pensamento, pois através dele as regras sociais e sua normatização são colocadas em cheque, se convertem em objeto de análise.
Segundo Millôr Fernandes, rindo o homem mostra o animal que é. Nisso não há nada de mal, embora a insana espécie humana coloque-se no ápice da cadeia animal, coroada pela racionalidade, ela não consegue escapar de sua animalidade que está sempre a bater os cascos, a puxar-lhe para o chão. Prontamente com o dedo em riste desmascarando a farsa da louca razão.
Com rios de sangue e barbárie, mas também com medonhas gargalhadas, sarcásticos risinhos, leves e sinuosos movimentos musculares na região próxima aos lábios, o nosso gênero fez sua história. De Platão a Millôr, o homem ri e rindo subverte, transforma, impõe sentido e humaniza-se.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Saudação do adeus


Derrida nos fala que a relação com o amigo é sempre um cogito do adeus, um cumprimento sem retorno. Desde a primeira saudação, temos a certeza de que um dos dois morrerá e o outro deverá recordá-lo em um diálogo que continua no super vivente. Cada vez e singularmente, a morte não é nada menos que um fim do mundo. Ao que fica, lhe toca a tremenda responsabilidade de levar o mundo do outro, um universo singular e único. Agora interiorizado como mais um conteúdo da sua existência, parte do seu si mesmo.
O sobrevivente está só, em um mundo fora e privado do mundo daquele que outrora fora um mundo particular. Para Derrida a vida é um diálogo com fantasmas e a morte do outro confirma a nossa própria condição fantasmagórica e de comunidade. Comunidade dos amigos, comunidade dos mortais...
Claudia Martins

Cegos


Lancemos nossa mão inútil ao nada...
Descarreguemos o tambor das nossas falhas para com a humanidade.
Que nossas armas possam nos servir de consolo por nada termos feito por alguém.
Aos vencedores, a glória!
A quem se isenta de culpa mesmo tendo, o putrefato odor da indiferença.
Perdedores da miséria somos esses que não enxergamos
mesmo que nada obscureça nossa visão.
Por que não vemos?
Quantos somos esses vermes?
É simples assim caminhar na doce alegria de nenhum compromisso com o próximo.
Caminhemos então pisando cabeças, acreditando pisar o paraíso.

Roze



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Felicidade vem de nós


Preocupamo-nos com tantas coisas associadas a ter ou possuir, como dinheiro, carro, poder...... Mas o prioritário para nós deveria ser: como ser mais feliz? Estamos perdendo o hábito de meditar sobre nossas vidas. Sócrates disse: "conhece-te a ti mesmo". Conhecendo-nos seremos mais capazes de conhecer o outro e o mundo a nossa volta.
Sufocamo-nos tanto em preocupações, medos, culpas e preconceitos, que esquecemos de viver. A vida é uma relação com o mundo, a felicidade que tanto queremos é uma conquista lenta de nosso interior feito por nós.
As mudanças na sociedade não ocorrerão de uma só vez, nem da noite para o dia, muito menos numa geração. as desigualdades sociais e econômicas são efeitos de causas como egoísmo ambição, falta de solidariedade, sementes de maldade dos que governam, tanto quanto em nós próprios.
Se não fomos capazes de melhorar como indivíduos, também seremos incapazes de construir uma nova sociedade, afinal ninguém consegue fazer os outros felizes, sem antes sê-lo.
Por mais ricos ou pobres que sejam os famosos ou anônimos, morreremos e apodreceremos do mesmo jeito. Somos hóspedes transitórios deste planeta, e que apesar de possuirmos algumas ações não somos os donos da hipoteca. Não nascemos feitos, mas nos fazemos a cada minuto, o que deveria importar de fato é o hoje bem vivido, afinal o ontem já passou e o amanhã ainda não veio.
Alvino

sábado, 12 de dezembro de 2009


Perdi-me dentro de mim

Pensamentos
Afetos
Sentimentos
Escoam por entre minhas mãos.
Não. Minto.
Os pensamentos devoram-me
Tonam-me ínfima.
Não me encontro mais
Distancia-me de forma voraz.
Preciso voltar. Não consigo.
Vivo realidade ou fantasia?
Desejo que seja ilusão
Já que com ela posso
transformar a verdade em arte.
Sandra G.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Questão de ponto de vista

Olhando-se de fora, dir-se-ia que era um sujeito patológico. Um caso sério. Já visto de dentro, parecia perfeitamente normal. Ele não via mal algum em desejar menininhas. Elas eram lindas, ainda guardavam a pureza. Não estavam sujas com pelos pubianos ou sangue menstrual. Seus peitos, ainda não aflorados, eram doces. Mas o que mais lhe encantava era a ingenuidade. Não sabiam o que era sexo. Então ele poderia fazer o que quisesse, passear pelos seus corpos, que seria apenas brincadeira.
Nunca pretendera fazer mal a nenhuma delas, afinal eram o que mais amava. Sua alma vivia tomada por este sentimento, visto pelos outros como doentio. Era apenas amor. Que mal havia em amar?
Ela estava sentada em um balanço, tinha uma boneca ao colo, a mãe ausentara-se por breves minutos. Calhara de justamente ele estar passando. “Deus é bom!”, pensou. A relatividade é algo absurdo. Então o criador fora bom com aquele sujeito e maligno com a menina e sua família? Onde Deus estava quando ele se aproximou?
Levou-a. Não precisou muito. Algumas balas, que sempre carregava, como jovens afoitos, desejosos da descoberta do sexo, que para ir à padaria da esquina estão munidos de camisinha. Sabe-se lá o que pode acontecer da casa até a compra do pão. Assim era ele, andava com balas e a casa repleta de brinquedos.
Vou poupar-lhes dos detalhes. Mas sabemos todos, o final. Resta responder por onde andava Deus que permitira tamanha monstruosidade. Seria a pequena dona de indizíveis pecados? Quem sabe pagara pelos pais? Ou ainda o que acontecera era um reflexo do pecado original? Onde estava escrito que deveria terminar assim?
Em frente ao júri, ele nada escutava, estava distante. Pensava apenas nelas, suas pequenas. A todos causava náuseas, queriam-no morto. Era desprezível. Um velho nojento e sórdido. Mas isso não importava, sabia que não fizera mal algum, apenas amara menininhas, os outros é que eram loucos.
A relatividade realmente é algo absurdo e Deus às vezes parece ter sumido do mapa.

Claudia Martins