sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Questão de ponto de vista

Olhando-se de fora, dir-se-ia que era um sujeito patológico. Um caso sério. Já visto de dentro, parecia perfeitamente normal. Ele não via mal algum em desejar menininhas. Elas eram lindas, ainda guardavam a pureza. Não estavam sujas com pelos pubianos ou sangue menstrual. Seus peitos, ainda não aflorados, eram doces. Mas o que mais lhe encantava era a ingenuidade. Não sabiam o que era sexo. Então ele poderia fazer o que quisesse, passear pelos seus corpos, que seria apenas brincadeira.
Nunca pretendera fazer mal a nenhuma delas, afinal eram o que mais amava. Sua alma vivia tomada por este sentimento, visto pelos outros como doentio. Era apenas amor. Que mal havia em amar?
Ela estava sentada em um balanço, tinha uma boneca ao colo, a mãe ausentara-se por breves minutos. Calhara de justamente ele estar passando. “Deus é bom!”, pensou. A relatividade é algo absurdo. Então o criador fora bom com aquele sujeito e maligno com a menina e sua família? Onde Deus estava quando ele se aproximou?
Levou-a. Não precisou muito. Algumas balas, que sempre carregava, como jovens afoitos, desejosos da descoberta do sexo, que para ir à padaria da esquina estão munidos de camisinha. Sabe-se lá o que pode acontecer da casa até a compra do pão. Assim era ele, andava com balas e a casa repleta de brinquedos.
Vou poupar-lhes dos detalhes. Mas sabemos todos, o final. Resta responder por onde andava Deus que permitira tamanha monstruosidade. Seria a pequena dona de indizíveis pecados? Quem sabe pagara pelos pais? Ou ainda o que acontecera era um reflexo do pecado original? Onde estava escrito que deveria terminar assim?
Em frente ao júri, ele nada escutava, estava distante. Pensava apenas nelas, suas pequenas. A todos causava náuseas, queriam-no morto. Era desprezível. Um velho nojento e sórdido. Mas isso não importava, sabia que não fizera mal algum, apenas amara menininhas, os outros é que eram loucos.
A relatividade realmente é algo absurdo e Deus às vezes parece ter sumido do mapa.

Claudia Martins

Um comentário:

  1. Deus foi infeliz na criação do ser humano. Essa é a grande verdade.
    Um teste que deu errado. Só.

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